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domingo, 27 de abril de 2014

Fernando Pessoa - poeta português

Autopsicografia (Fernando Pessoa) - na voz de Paulo Autran

Fonte: http://youtu.be/WDb4mNUfijQ
Fonte: http://youtu.be/UZkLt1vt2hI
“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali?” (Fernando Pessoa)

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Sequência Didática - O enfermeiro, de Machado de Assis

ATENÇÃO!!! 9º "B" -                                                                              2º BIMESTRE
LEITURA EM SALA DE AULA -1 AULA POR SEMANA 
TAMBÉM CONTO COM VOCÊS: 
PARTICIPAÇÃO NA OLIMPÍADA DE LÍNGUA PORTUGUESA -CRÔNICA
Fonte: http://youtu.be/3DCziitK9hg

Análise de "O enfermeiro", de Machado de Assis
O conto "O enfermeiro" é um bom ponto de partida para conduzir uma análise literária com a turma. Você também pode usar as etapas abaixo para analisar outras obras junto dos alunos. Aproveite!
Objetivos 
- Conhecer os procedimentos de análise literária
- Reconhecer a complexidade da obra machadiana
- Entender a importância dos escritos machadianos para a compreensão da estrutura social brasileira
- Discutir as relações entre literatura e sociedade

Conteúdos
- Procedimentos de análise literária
- Forma literária
- Estrutura social brasileira no sistema escravista

Anos
9º ano

Tempo estimado
Quatro aulas

Materiais necessários 
- Cópia do conto "O enfermeiro", de Machado de Assis (o conto está disponível para download gratuito no site Domínio Público. Clique aqui e acesse )




·         Leia mais - Análise de "Conto de Escola", de Machado de Assis

Desenvolvimento
1ª etapa
Conduza a leitura do conto "O enfermeiro", de Machado de Assis com a turma. Fique atento às observações dos alunos e esclareça eventuais dúvidas sobre palavras que eles desconhecem. Se necessário retome alguns pontos para assegurar que todos compreenderem o enredo. 

Neste momento o mais importante é responder a pergunta: sobre o que fala o texto? Faça um resumo e conte "a história com suas próprias palavras". Por conta disso, seja curto e objetivo e fique atento apenas ao essencial. 

Exemplo: 
O conto "O enfermeiro" narra a história de Procópio, um homem do Rio de Janeiro que vai ao interior trabalharhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png como enfermeiro para um velho coronel muito doente. Durante um bom tempo ele aguenta o mau-humor e as agressões verbais do coronel com paciência e resignação. No entanto, quando o velho parte para a agressão física, o enfermeiro perde a cabeça e o estrangula. O doente morre e Procópio esconde o assassinato declarando que ele morreu dormindo. Ao voltar para o Rio, o ex-enfermeiro descobre-se herdeiro universal do coronel. Sentindo-se culpado pela morte do ex-patrão, decide doar aos pobres toda a herança. Com o tempo, porém, convence-se de que aquela morte foi uma fatalidade e passa a gozar a herança inesperada.
 
2ª etapa
Ao analisar um conto, buscamos elementos para interpretá-lo e atingir o seu sentido mais profundo. Desde o início temos em mente uma ideia do que o conto significa, isto é, uma hipótese interpretativa ou um elemento que nos deixou intrigados. No caso do conto "O enfermeiro", sabemos com toda certeza que Procópio enriqueceu porque herdou a fortuna do coronel. Mas não conhecemos como ele deixou de sentir-se culpado pela morte e desistiu de doar todo o dinheirohttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png.
Também não fica muito clara a razão da repentina explosão de ódio que o levou a matar o velho, visto que Procópio ainda não tinha tido reações intensas diante dos maus tratos que sofria - a não ser a decisão de deixar o doente, tomada pouco antes.
Em obras literárias de qualidade, há sempre algo a ser respondido pelo leitor. A interpretação se constrói por um trabalho de leitura do qual participam ativamente tanto o escritor quanto o leitor. O autor deixa "fios soltos" que devem ser resolvidos por quem lê a obra. Para responder essas questões menos evidentes na leitura do conto (chamadas aqui de "questões norteadoras"), precisamos criar as nossas hipóteses interpretativas. 
Formule, junto dos alunos, questões norteadores e veja quais hipóteses interpretativas eles criaram. 
Exemplo de questões norteadoras: - Por que Procópio, que parecia tão resignado e paciente, de repente pula no pescoço do coronel e o mata? 
- Como é que ele se livra da culpa e decide desfrutar a herança?

Exemplo de hipóteses interpretativas: acho que o assassinato do coronel pode ter sido uma explosão de ódio acumulado em função das muitas agressões sofridas no convívio com o doente. Nesse sentido, o ferimento com a moringa teria sido a "gota d
água" para o enfermeiro. Quanto à herança, talvez a ganância e a possibilidade única de mudar de vida tenham sido mais fortes para Procópio do que seus sentimentos cristãos.

3ª etapa 
Prossiga a análise com os estudantes. Tenha em mente que cada obra literária tem inúmeros elementos que a constituem e, de fato, é impossível investigar todos. Para esta etapa, escolha analisar os elementos que respondam as questões norteadoras formuladas por seus alunos.

Lembre que a análise deve construir argumentos que sustentem a interpretação. É ela que vai conduzir o leitor conforme seu raciocínio. Como se, lendo a sua análise, o leitor compartilhasse das mesmas dúvidas que você e dissesse "também não entendi" ou "não acho essa questão pertinente". 

Não podemos esquecer também que, em arte, forma é conteúdo. Por isso, ressalte com os estudantes a contribuição de alguns aspectos formais na economia do conto. O que são "aspectos formais"? São elementos que se referem mais a como algo está sendo dito do que ao que está sendo dito. Exemplos: tipo de narrador, a caracterização de algum personagem, o tempo, o espaço e o tipo de discurso. 

Neste caso, os estudantes poderão identificar que o conto foi narrado em primeira pessoahttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png, em um tom confessional. Eles poderão notar que Procópio revela a história apenas por estar à beira da morte. Este é um detalhe importante, que indica que algo desabonador será descoberto. 

Também pode chamar a atenção o personagem do coronel, que se delicia em ofender e humilhar os que o cercam. Algumas frases também parecem ambíguas, como a do penúltimo parágrafo ("...mas a verdade é que ele devia morrer...") e o epitáfio que Procópio recomenda para si próprio ("Bem aventurados os que possuem, porque eles serão consolados").
Exemplo resumido de análise que você e seus alunos poderão formular: O parágrafo inicial de "O enfermeiro" sugere ao leitor que algo de muito grave será confessado, pois o narrador só ousa confessá-lo por estar moribundo. Quando ele parte para a história em si, temos ideia de sua condição de homem livre (estamos no Rio de Janeiro, em 1860, quando ainda vigorava a escravidão no Brasil), pobre e obrigado a prestar serviços de copista para um padre (seu ex-colega de colégio) em troca de moradia e comida. A oportunidade de trabalharhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png como enfermeiro para o coronel Felisberto lhe parece ótima, dado que, além de casa e pão, receberia também um bom salário. Mas o coronel, apesar de velho e muito doente, se aproveita de suas prerrogativas de rico proprietário para divertir-se humilhando os que, como Procópio, dele dependem. "Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia a vontade. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a humilhação dos outros."

Por falta de alternativa melhor, o enfermeiro decide resignar-se aos maus-tratos do velho, que não demoraram a se estender da agressão verbal para a física. Primeiro, o coronel Felisberto "pegou da bengala e atirou-me dous ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente...". No entanto, por insistência do doente, o enfermeiro acaba ficando, aparentemente conformado com os maus tratos: "Eu, com o tempo, fui calejando, e não dava mais por nada; era burro, camelo, pedaço d
asno, idiota, moleirão, era tudo. (...) Mais de uma vez resolvi sair, mas instado pelo vigário, ia ficando."

Depois de um ano trabalhando para o coronel, Procópio decide finalmente ir embora ("Já por esse tempo, tinha eu perdido a escassa dose de piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio e aversão.") e combina com o vigário o prazo de um mês para que se procure um substituto.

É então que, em seus acessos de raiva, o coronel atira no enfermeiro primeiro um prato de mingau e depois uma moringa que lhe atinge o rosto. “... tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o."
Muito irritado e com muito medo de ser preso, Procópio disfarça as marcas no pescoço do cadáver e declara que o coronel amanheceu morto. A mentira não é questionada e o enterro decorre tranqüilamente. De volta ao Rio, o remorso perturba o ex-enfermeiro: “... não ria, falava pouco, mal comia, tinha alucinações, pesadelos..."

Sabendo-se herdeiro universal do coronel, a culpa o inspira a doar toda a herança recebida. "Não era só escrúpulo; era também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de contas saldas." No entanto, conforme vai se aproximando o recebimento da fortuna, Procópio desenvolve um mecanismo de auto-ilusão em que se convence de que o crime foi na verdade uma luta e uma fatalidade. Era possível até que tivesse havido uma coincidência entre morte e luta, dado que a vida do coronel estava mesmo por um fio. Aliado a isso, o consenso dos moradores da vila em relação à perversidade do morto acabou por dissipar da alma do ex-enfermeiro a idéia da doação total, que se restringe a algumas poucas obras de caridade. 

É bom que a análise inclua trechos do texto, isso ajuda a dar voz à obra. É possível interpretar que o conto fala da flexibilidade moral de um indivíduo ganancioso. O estrangulamento do coronel teria sido mesmo uma explosão de ódio acumulado durante um ano e os remorsos teriam se dissipado frente às delícias da fortuna. Trata-se de uma leitura verdadeira, mas faltam algumas questões a resolver. Por isso, pergunte:

Por que o coronel, mesmo velho e muito doente, insiste em humilhar e ofender o enfermeiro pelo qual depois revela tanto apreço? E o que significa a frase dúbia "...mas a verdade é que ele devia morrer...".Qual o sentido do epitáfio de Procópio?

Para responder a essas questões é necessário entrarmos em outra etapa do trabalho analítico.

4ª etapa 
Agora, faça uma exposição do contexto histórico da obra e do funcionamento da sociedade escravista. A literatura faz parte do tecido social em que está inserida. Como diz o especialista Antonio Cândido, também determinam a obra as "...circunstâncias de sua composição, o momento histórico, a vida do autor, o gênero literário, as tendências estéticas de seu tempo, etc. Só encarando-a assim teremos elementos para avaliar o significado da maneira mais completa possível (que é sempre incompleta, apesar de tudo)."

Exemplo resumido de comentário: "O enfermeiro" se passa em 1860, período de apogeu do Império brasileiro. Após a independência, a única coisa que unificava as elites de todo o território nacional era a escravidão, vista politicamente como um "mal necessário". Entre 1850 e 1860, acaba a tensão entre elites regionais e poder local e passa a ser possível a extinção efetiva do tráfico negreiro.

No entanto, a sistema colonial escravista produzira na sociedade brasileira uma camada de homens livres pobres que, não sendo proprietários e impedidos de se proletarizar, permaneceram à margem do sistema e, do ponto de vista da produção econômica, sem razão de ser. Restou a essa camada significativa da população a alternativa de sobreviver dos favores dos grandes, de escassas e mal-remuneradas profissões liberais (barbeiro, costureira etc.), de pequenos golpes ou furtos. O nosso copista-enfermeiro, Procópio José Gomes Valongo, pertence à camada dos homens livres na ordem escravocrata, dependente dos favores de um ex-colega ou de trabalhos raros e, no caso do coronel Felisberto, ultrajantes.

5ª etapa
Após tudo o que foi conversado, peça que os estudantes resgatem o que pensavam antes da análise. A interpretação é a mesma? Antes da análise, eles haviam pensando na relação entre a narração e o contexto da obra? Comente a distância entre a compreensão inicial do conto e a consciência de sua complexidade após o trabalho interpretativo.

Aproveite para discutir também as relações entre literatura e sociedade e a importância de se encarar a literatura como um objeto de conhecimento.

Avaliação
Proponha um trabalho de análise de outro conto de Machado, preferencialmente em grupos pequenos. Avalie se os estudantes conseguem formular questões pertinentes à obra e se conseguem se distanciar da leitura parafrástica e construir interpretações coerentes.

Especialista em Língua Portuguesa e Literatura
Observação: farei algumas adaptações para sala de aula.
O ENFERMEIRO


Parece-lhe então que o que se deu comigo em 1860, pode entrar numa página de livro? Vá que seja, com a condição única de que não há de divulgar nada antes da minha morte. Não esperará muito, pode ser que oito dias, se não for menos; estou desenganado.
Olhe, eu podia mesmo contar-lhe a minha vida inteira, em que há outras coisas interessantes, mas para isso era preciso tempo, ânimo e papel, e eu só tenho papel; o ânimo é frouxo, e o tempo assemelha-se à lamparina de madrugada. Não tarda o sol do outro dia, um sol dos diabos, impenetrável como a vida. Adeus, meu caro senhor, leia isto e queira-me bem; perdoe-me o que lhe parecer mau, e não maltrate muito a arruda, se lhe não cheira a rosas. Pediu- me um documento humano, ei-lo aqui. Não me peça também o império do Grão-Mogol. nem a fotografia dos Macabeus; peça, porém, os meus sapatos de defunto e não os dou a ninguém mais.
Já sabe que foi em l860. No ano anterior, ali pelo mês de agosto, tendo eu quarenta e dois anos, fiz-me teólogo. - quero dizer, copiava os estudos de teologia de um padre de Niterói, antigo companheiro de colégio, que assim me dava. delicadamente, casa, cama e mesa. Naquele mês de agosto de 1859, recebeu ele uma carta de um vigário de certa vila do interior, perguntando se conhecia pessoa entendida, discreta e paciente, que quisesse ir servir de enfermeiro ao Coronel Felisberto, mediante um bom ordenado. O padre falou- me, aceitei com ambas as mãos, estava já enfarado de copiar citações latinas e fórmulas eclesiásticas. Vim à corte despedir-me de um irmão, e segui para a vila.
Chegando à vila, tive más notícias do coronel. Era homem insuportável, estúrdio, exigente, ninguém o aturava, nem os próprios amigos. Gastava mais enfermeiros que remédios. A dois deles quebrou a cara. Respondi que não tinha medo de gente sã, menos ainda de doentes; e depois de entender-me com o vigário, que me confirmou as notícias recebidas, e me recomendou mansidão e caridade, segui para a residência do coronel.
Achei-o na varanda da casa estirado numa cadeira, bufando muito. Não me recebeu mal. Começou por não dizer nada; pôs em mim dois olhos de gato que observa; depois, uma espécie de riso maligno alumino-lhe as feições. que eram duras. Afinal, disse-me que nenhum dos enfermeiros que tivera, prestava para nada, dormiam muito, eram respondões e andavam ao faro das escravas; dois eram até gatunos!
- Você é gatuno?
- Não, senhor.
Em seguida, perguntou-me pelo nome: disse-lho e ele fez um gesto de espanto. Colombo? Não, senhor: Procópio José Gomes Valongo. Valongo? achou que não era nome de gente, e propôs chamar-me tão-somente Procópio, ao que respondi que estaria pelo que fosse de seu agrado. Conto-lhe esta particularidade, não só porque me parece pintá-lo bem, como porque a minha resposta deu de mim a melhor idéia ao coronel. Ele mesmo o declarou ao vigário, acrescentando que eu era o mais simpático dos enfermeiros que tivera. A verdade é que vivemos uma lua-de-mel de sete dias.
No oitavo dia, entrei na vida dos meus predecessores, uma vida de cão, não dormir, não pensar em mais nada, recolher injúrias, e, às vezes, rir delas, com um ar de resignação e conformidade; reparei que era um modo de lhe fazer corte. Tudo impertinências de moléstia e do temperamento. A moléstia era um rosário delas, padecia de aneurisma, de reumatismo e de três ou quatro afecções menores. Tinha perto de sessenta anos, e desde os cinco toda a gente lhe fazia a vontade. Se fosse só rabugento, vá; mas ele era também mau, deleitava-se com a dor e a humilhação dos outros. No fim de três meses estava farto de o aturar; determinei vir embora; só esperei ocasião.
Não tardou a ocasião. Um dia, como lhe não desse a tempo uma fomentação, pegou da bengala e atirou-me dois ou três golpes. Não era preciso mais; despedi-me imediatamente, e fui aprontar a mala. Ele foi ter comigo, ao quarto, pediu-me que ficasse, que não valia a pena zangar por uma rabugice de velho. Instou tanto que fiquei.
- Estou na dependura, Procópio, dizia-me ele à noite; não posso viver muito tempo. Estou aqui, estou na cova. Você há de ir ao meu enterro, Procópio; não o dispenso por nada. Há de ir, há de rezar ao pé da minha sepultura. Se não for, acrescentou rindo, eu voltarei de noite para lhe puxar as pernas. Você crê em almas de outro mundo. Procópio?
- Qual o quê!
- E por que é que não há de crer, seu burro? redargüiu vivamente, arregalando os olhos.
Eram assim as pazes; imagine a guerra. Coibiu-se das bengaladas; mas as injúrias ficaram as mesmas, se não piores. Eu, com o tempo, fui calejando, e não dava mais por nada; era burro, camelo, pedaço d'asno, idiota, moleirão, era tudo. Nem, ao menos, havia mais gente que recolhesse uma parte desses nomes. Não tinha parentes; tinha um sobrinho que morreu tísico, em fins de maio ou princípios de julho, em Minas. Os amigos iam por lá às vezes aprová-lo, aplaudi-lo, e nada mais; cinco, dez minutos de visita. Restava eu; era eu sozinho para um dicionário inteiro. Mais de uma vez resolvi sair; mas, instado pelo vigário. ia ficando.
Não só as relações foram-se tornando melindrosas, mas eu estava ansioso por tornar à Corte. Aos quarenta e dois anos não é que havia de acostumar-me à reclusão constante, ao pé de um doente bravio, no interior. Para avaliar o meu isolamento, basta saber que eu nem lia os jornais; salvo alguma notícia mais importante que levavam ao coronel, eu nada sabia do resto do mundo. Entendi, portanto, voltar para a Corte, na primeira ocasião, ainda que tivesse de brigar com o vigário. Bom é dizer (visto que faço uma confissão geral) que, nada gastando e tendo guardado integralmente os ordenados, estava ansioso por vir dissipá-los aqui.
Era provável que a ocasião aparecesse. O coronel estava pior, fez testamento, descompondo o tabelião, quase tanto como a mim. O trato era mais duro, os breves lapsos de sossego e brandura faziam-se raros. Já por esse tempo tinha eu perdido a escassa dose de piedade que me fazia esquecer os excessos do doente; trazia dentro de mim um fermento de ódio e aversão. No princípio de agosto resolvi definitivamente sair; o vigário e o médico, aceitando as razões, pediram- me que ficasse algum tempo mais. Concedi-lhes um mês; no fim de um mês viria embora, qualquer que fosse o estado do doente. O vigário tratou de procurar-me substituto.
Vai ver o que aconteceu. Na noite de vinte e quatro de agosto, o coronel teve um acesso de raiva, atropelou-me, disse-me muito nome cru, ameaçou-me de um tiro, e acabou atirando-me um prato de mingau, que achou frio; o prato foi cair na parede, onde se fez em pedaços.
- Hás de pagá-lo, ladrão! bradou ele.
Resmungou ainda muito tempo. Às onze horas passou pelo sono. Enquanto ele dormia, saquei um livro do bolso, um velho romance de d'Arlincourt, traduzido, que lá achei, e pus-me a lê-lo, no mesmo quarto, a pequena distância da cama; tinha de acordá-lo à meia-noite para lhe dar o remédio. Ou fosse de cansaço, ou do livro, antes de chegar ao fim da segunda página adormeci também. Acordei aos gritos do coronel, e levantei-me estremunhado. Ele, que parecia delirar, continuou nos mesmos gritos, e acabou por lançar mão da moringa e arremessá-la contra mim. Não tive tempo de desviar-me; a moringa bateu-me na face esquerda, e tal foi a dor que não vi mais nada; atirei-me ao doente, pus-lhe as mãos ao pescoço, lutamos, e esganei-o.
Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava uma vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino! assassino!
Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco, sublinhava o silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de ouvir um gemido, uma palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida, e me restituísse a paz à consciência. Estaria pronto a apanhar das mãos do coronel, dez, vinte, cem vezes. Mas nada, nada; tudo calado. Voltava a andar à toa, na sala, sentava-me, punha as mãos na cabeça; arrependia-me de ter vindo. - "Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!" exclamava. E descompunha o padre de Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os que me pediram para ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros homens.
Como o silêncio acabasse por aterrar-me, abri uma das janelas, para escutar o som do vento, se ventasse. Não ventava. A noite ia tranqüila, as estrelas fulguravam, com a indiferença de pessoas que tiram o chapéu a um enterro que passa, e continuam a falar de outra coisa. Encostei-me ali por algum tempo, fitando a noite, deixando-me ir a urna recapitulação da vida, a ver se descansava da dor presente. Só então posso dizer que pensei claramente no castigo. Achei-me com um crime às costas e vi a punição certa. Aqui o temor complicou o remorso. Senti que os cabelos me ficavam de pé. Minutos depois, vi três ou quatro vultos de pessoas, no terreiro, espiando, com um ar de emboscada; recuei, os vultos esvaíram-se no ar; era uma alucinação.
Antes do alvorecer curei a contusão da face. Só então ousei voltar ao quarto. Recuei duas vezes, mas era preciso e entrei; ainda assim, não cheguei logo à cama. Tremiam-me as pernas, o coração batia-me; cheguei a pensar na fuga; mas era confessar o crime, e, ao contrário, urgia fazer desaparecer os vestígios dele. Fui até a cama; vi o cadáver, com os olhos arregalados e a boca aberta, como deixando passar a eterna palavra dos séculos: "Caim, que fizeste de teu irmão?" Vi no pescoço o sinal das minhas unhas; abotoei alto a camisa e cheguei ao queixo a ponta do lençol. Em seguida, chamei um escravo, disse-lhe que o coronel amanhecera morto; mandei recado ao vigário e ao médico.
A primeira idéia foi retirar-me logo cedo, a pretexto de ter meu irmão doente, e, na verdade, recebera carta dele, alguns dias antes, dizendo-me que se sentia mal. Mas adverti que a retirada imediata poderia fazer despertar suspeitas, e fiquei. Eu mesmo amortalhei o cadáver, com o auxílio de um preto velho e míope. Não saí da sala mortuária; tinha medo de que descobrissem alguma coisa. Queria ver no rosto dos outros se desconfiavam; mas não ousava fitar ninguém. Tudo me dava impaciências: os passos de ladrão com que entravam na sala, os cochichos, as cerimônias e as rezas do vigário. Vindo a hora, fechei o caixão, com as mãos trêmulas, tão trêmulas que uma pessoa, que reparou nelas, disse a outra com piedade:
- Coitado do Procópio! apesar do que padeceu, está muito sentido.
Pareceu-me ironia; estava ansioso por ver tudo acabado. Saímos à rua. A passagem da meia-escuridão da casa para a claridade da rua deu-me grande abalo; receei que fosse então impossível ocultar o crime. Meti os olhos no chão, e fui andando. Quando tudo acabou, respirei. Estava em paz com os homens. Não o estava com a consciência, e as primeiras noites foram naturalmente de desassossego e aflição. Não é preciso dizer que vim logo para o Rio de Janeiro, nem que vivi aqui aterrado, embora longe do crime; não ria, falava pouco, mal comia, tinha alucinações, pesadelos...
- Deixa lá o outro que morreu, diziam-me. Não é caso para tanta melancolia.
E eu aproveitava a ilusão, fazendo muitos elogios ao morto, chamando-lhe boa criatura, impertinente, é verdade, mas um coração de ouro. E, elogiando, convencia-me também, ao menos por alguns instantes. Outro fenômeno interessante, e que talvez lhe possa aproveitar, é que, não sendo religioso, mandei dizer uma missa pelo eterno descanso do coronel, na igreja do Sacramento. Não fiz convites, não disse nada a ninguém; fui ouvi-la, sozinho, e estive de joelhos todo o tempo, persignando-me a miúdo. Dobrei a espórtula do padre, e distribuí esmolas à porta, tudo por intenção do finado. Não queria embair os homens; a prova é que fui só. Para completar este ponto, acrescentarei que nunca aludia ao coronel, que não dissesse: "Deus lhe fale n'alma!" E contava dele algumas anedotas alegres, rompantes engraçados...
Sete dias depois de chegar ao Rio de Janeiro, recebi a carta do vigário, que lhe mostrei, dizendo-me que fora achado o testamento do coronel, e que eu era o herdeiro universal. Imagine o meu pasmo. Pareceu-me que lia mal, fui a meu irmão, fui aos amigos; todos leram a mesma coisa. Estava escrito; era eu o herdeiro universal do coronel. Cheguei a supor que fosse uma cilada; mas adverti logo que havia outros meios de capturar-me, se o crime estivesse descoberto. Demais, eu conhecia a probidade do vigário, que não se prestaria a ser instrumento. Reli a carta, cinco, dez, muitas vezes; lá estava a notícia.
- Quanto tinha ele? perguntava-me meu irmão.
- Não sei, mas era rico.
- Realmente, provou que era teu amigo.
- Era... Era...
Assim, por uma ironia da sorte, os bens do coronel vinham parar às minhas mãos. Cogitei em recusar a herança. Parecia-me odioso receber um vintém do tal espólio; era pior do que fazer-me esbirro alugado. Pensei nisso três dias, e esbarrava sempre na consideração de que a recusa podia fazer desconfiar alguma coisa. No fim dos três dias, assentei num meio-termo; receberia a herança e dá-la-ia toda, aos bocados e às escondidas. Não era só escrúpulo; era também o modo de resgatar o crime por um ato de virtude; pareceu-me que ficava assim de contas saldas.
Preparei-me e segui para a vila. Em caminho, à proporção que me ia aproximando, recordava o triste sucesso; as cercanias da vila tinham um aspecto de tragédia, e a sombra do coronel parecia-me surgir de cada lado. A imaginação ia reproduzindo as palavras, os gestos, toda a noite horrenda do crime...
Crime ou luta? Realmente, foi uma luta em que eu, atacado, defendi-me, e na defesa... Foi uma luta desgraçada, uma fatalidade. Fixei-me nessa idéia. E balanceava os agravos, punha no ativo as pancadas, as injúrias... Não era culpa do coronel, bem o sabia, era da moléstia, que o tornava assim rabugento e até mau... Mas eu perdoava tudo, tudo... O pior foi a fatalidade daquela noite... Considerei também que o coronel não podia viver muito mais; estava por pouco; ele mesmo o sentia e dizia. Viveria quanto? Duas semanas, ou uma; pode ser até que menos. Já não era vida, era um molambo de vida, se isto mesmo se podia chamar ao padecer contínuo do pobre homem... E quem sabe mesmo se a luta e a morte não foram apenas coincidentes? Podia ser, era até o mais provável; não foi outra coisa. Fixei-me também nessa idéia...
Perto da vila apertou-se-me o coração, e quis recuar; mas dominei- me e fui. Receberam-me com parabéns. O vigário disse-me as disposições do testamento, os legados pios, e de caminho ia louvando a mansidão cristã e o zelo com que eu servira ao coronel, que, apesar de áspero e duro, soube ser grato.
- Sem dúvida, dizia eu olhando para outra parte.
Estava atordoado. Toda a gente me elogiava a dedicação e a paciência. As primeiras necessidades do inventário detiveram-me algum tempo na vila. Constituí advogado; as coisas correram placidamente. Durante esse tempo, falava muita vez do coronel. Vinham contar-me coisas dele, mas sem a moderação do padre; eu defendia-o, apontava algumas virtudes, era austero...
- Qual austero! Já morreu, acabou; mas era o diabo.
E referiam-me casos duros, ações perversas, algumas extraordinárias. Quer que lhe diga? Eu, a princípio, ia ouvindo cheio de curiosidade; depois, entrou-me no coração um singular prazer, que eu, sinceramente buscava expelir. E defendia o coronel, explicava-o, atribuía alguma coisa às rivalidades locais; confessava, sim, que era um pouco violento... Um pouco? Era uma cobra assanhada, interrompia-me o barbeiro; e todos, o coletor, o boticário, o escrivão, todos diziam a mesma coisa; e vinham outras anedotas, vinha toda a vida do defunto. Os velhos lembravam-se das crueldades dele, em menino. E o prazer íntimo, calado, insidioso, crescia dentro de mim, espécie de tênia moral, que por mais que a arrancasse aos pedaços, recompunha-se logo e ia ficando.
As obrigações do inventário distraíram-me; e por outro lado a opinião da vila era tão contrária ao coronel, que a vista dos lugares foi perdendo para mim a feição tenebrosa que a princípio achei neles. Entrando na posse da herança, converti-a em títulos e dinheiro. Eram então passados muitos meses, e a idéia de distribuí-la toda em esmolas e donativos pios não me dominou como da primeira vez; achei mesmo que era afetação. Restringi o plano primitivo; distribuí alguma coisa aos pobres, dei à matriz da vila uns paramentos novos, fiz uma esmola à Santa Casa da Misericórdia, etc.: ao todo trinta e dois contos. Mandei também levantar um túmulo ao coronel, todo de mármore, obra de um napolitano, que aqui esteve até 1866, e foi morrer, creio eu, no Paraguai.
Os anos foram andando, a memória tornou-se cinzenta e desmaiada. Penso às vezes no coronel, mas sem os terrores dos primeiros dias. Todos os médicos a quem contei as moléstias dele, foram acordes em que a morte era certa, e só se admiravam de ter resistido tanto tempo. Pode ser que eu, involuntariamente, exagerasse a descrição que então lhes fiz; mas a verdade é que ele devia morrer, ainda que não fosse aquela fatalidade...
Adeus, meu caro senhor. Se achar que esses apontamentos valem alguma coisa, pague-me também com um túmulo de mármore, ao qual dará por epitáfio esta emenda que faço aqui ao divino sermão da montanha: "Bem-aventurados os que possuem, porque eles serão consolados."

Fonte: Contos Consagrados - Machado de Assis - Coleção Prestigio - Ediouro - s/d.
Fonte: A Biblioteca Virtual de Literatura - http://www.biblio.com.br/


Grão-Mogol: nome pelo qual é conhecido o império estabelecido na Índia por Tamerlão, no século XVI.

Macabeus: nome de uma família de hebreus do século II a.C., cuja história vem narrada no Livro dos Macabeus, no Velho Testamento.

Esbirro: capanga, matador.

Sucesso: acontecimento

ENREDO COMENTADO
Publicado pelo autor em Várias Histórias, o conto é apresentado por um narrador-personagem que se chama Procópio José Gomes Valongo o qual se mostra desanimado para dispor algumas linhas desse fato obscuro de sua vida. Morava ele de favores na casa de um vigário que era seu amigo de longa data trabalhando como “Teólogo”, ou melhor, dizendo, copiava os estudos de teologia do amigo padre até este receber uma carta solicitando uma pessoa para tomar de conta, por um bom dinheiro, de um velho doente numa vila nas proximidades da corte.
Procópio é indicado e aceita. Despede-se dos amigos e familiares e vai de encontro ao coronel Felisberto. Diante do velho é recebido de maneira natural, apesar das orientações prévias das intolerâncias e mau tratamento que o velho dispensava aos enfermeiros que ali passara.
Passada a primeira semana de trabalho, começaram as agressões, insultos e rabugices do velho. Já no término do terceiro mês a partida de Procópio era inevitável, porém o coronel pedia-lhe muito para continuar, pois havia gostado dele.
O enfermeiro comunica ao médico e ao vigário que fica mais um mês. Tempo para arranjarem outro. Em vinte e quatro de agosto, o coronel tem um ataque de raiva atira o prato com sopa em Procópio, não satisfeito chama-o de ladrão.
À noite o coronel Felisberto deita-se aos cuidados do (im) paciente enfermeiro que à meia-noite teria de acordá-lo para tomar o remédio, e, nesse ínterim Procópio lê um livro velho até adormecer, quando é acordado inesperadamente pelos gritos e insultos do doente no meio da noite.
Ao arremessar uma moringa no rosto do seu empregado é chegada a hora de descarregar toda a fúria e Procópio parte para cima do velho a fim de esganá-lo até o estremecimento e suspiro final da morte.
Os dois (o enfermeiro e o cadáver) passaram juntos o resto da agonizante noite até o amanhecer quando Procópio chama o criado e diz que o coronel amanhecera morto e que avisasse ao médico e ao vigário. A angústia, o medo e alucinações tomam de conta de Procópio por receio de pensarem que havia alguma relação de interesse com a morte do velho, mas passadas as cerimônias fúnebres, Procópio volta para a Corte onde sofre por carregar o peso na consciência de ter cometido um crime e o pior, ou melhor? Ninguém desconfiara.
Após sete dias no Rio de Janeiro a surpresa se instala na fisionomia assustada de Procópio ao receber uma carta do vigário a dizer que tinha no testamento o único herdeiro o coronel. Quem? O enfermeiro Procópio.
Regressando a vila para tomar de conta dos bens do falecido, o enfermeiro diminuira os traumas e alucinações até os trâmites legais com o advogado e a herança era dele.
Inicialmente doaria tudo, às escondidas, para instituições de caridade para compensar o crime, melhor dizendo, fatalidade. No entanto, o enfermeiro ficara encantado com a fortuna e fez algumas doações, ajudou na igreja matriz da vila, na Santa Casa de Misericórdia e mandou erguer um túmulo em mármore em memória ao coronel. O restante ficou para fins pessoais, já que ele simplesmente adiantou a morte iminente e inevitável de um velho doente. Talvez o autor questione aqueles que, sem qualificação, ocupem ocasionalmente o lugar do profissional.

PERSONAGENS

Procópio José Gomes Valongo: Protagonista e narrador personagem. “Teólogo” de 42 anos que mora de favores na casa de um amigo (padre). Não é enfermeiro profissional. É por indicação e necessidade.

Coronel Felisberto: Velho de aproximadamente 60 anos que sofre de aneurisma e reumatismo e que “era homem insuportável, estúrdio, exigente”.

ESPAÇO / AMBIENTE
Rio de Janeiro e a vila onde reside o coronel Felisberto.

TEMPO
É Cronológico quando o narrador situa fatos com marcações temporais (datas, dias, horas, anos). No entanto, o narrador, em vários momentos, ao retomar o fio da narrativa (fim do flashback), detalha psicologicamente as ações das personagens.

FOCO NARRATIVO
Narrador-personagem. Quanto ao ato de narrar as ações são transmitidas através de flashback, ou seja, o fato já ocorreu e o narrador vem mostrar ao leitor como isso aconteceu. Para tanto, utiliza truque do falso interlocutor com ironia ao apresentar os fatos.

TEMÁTICA CENTRAL
O segredo do conto se encontra justamente após a morte do coronel Felisberto, onde temos o conflito psicológico vivenciado pelo “assassino vítima”, diante de angústias e perturbações mentais. Vide o esquema:

ESTUPEFAÇÃO E INCREDULIDADE DIANTE DO ASSASSINATO
ß
NÃO ACEITAÇÃO DO PRÓPRIO ATO E DA SITUAÇÃO VIVIDA
(AO SE AUSENTAR DO QUARTO)
ß
SENTIMENTO DE CULPA
ß
AUTOPUNIÇÃO (DESEJO DE APANHAR DO CORONEL COMO REPRESÁLIA AO QUE FEZ)
ß
REMORSO
ß
DISSIMULAÇÃO E OCULTAÇÃO DOS FATOS
ß
MEDO
ß
TENTATIVA DE COMPENSAÇÃO DE UM ERRO POR ATOS VIRTUOSOS (A MISSA AO CORONEL & O DESEJO DE CONVERTER A HERANÇA EM CARIDADES)



Avaliação do conto O enfermeiro, de Machado de Assis