O
MEU PAPAI NOEL
O meu Papai Noel nada tinha a ver com aquele
Papai Noel do qual me falaram quando eu era uma criança.
O
meu Papai Noel não era um velho gordo, de barba comprida.
Ele era jovem, esguio, tinha uma excelente
fisionomia e
possuía uma barba não muito longa nem tampouco
grisalha.
Os seus olhos transmitiam um misto de piedade
e esperança.
O meu Papai Noel não andava sobre um trenó.
Muitas vezes o viram caminhando sobre os
montes, sobre as terras quentes dos desertos e
até sobre as águas do mar... Montado no dorso
de uma jumenta, um dia,
ele adentrou, triunfante, numa cidade chamada
Jerusalém.
O meu Papai Noel não usava gorro.
Cingiram
a sua cabeça com uma torturante coroa de espinhos pontiagudos.
O meu Papai Noel não transportava um saco
repleto de brinquedos.
Nas costas dele havia uma cruz de madeira
rústica, muito pesada, e o
púrpuro líquido que jorrava de seu corpo era o
preço do perdão, o sangue da misericórdia.
O meu Papai Noel não chegava às casas através
das chaminés.
Ele buscava as portas do coração e da alma.
O meu Papai Noel chama-se Jesus Cristo, o
Filho de Deus.
O maior exemplo de amor, de perdão e de
bondade já visto no mundo.
Ele é o nosso maior presente!
Poeta e Professor Ivo Júnior (Salgueiro – PE)
PAPAI
NOEL SERTANEJO
Imagino um Papai Noel Sertanejo. Um Papai Noel
vivendo numa terra seca, no epicentro da caatinga, sob um sol causticante,
sobre um chão tórrido. Um Papai Noel sem renas, mas montado num jumento. Um
Papai Noel sem gorro, mas usando chapéu de couro. Um Papai Noel magro, artesão,
vaqueiro, um herói anônimo. Um Papai Noel residindo distante das cidades
grandes. Um Papai Noel que não conhece shopping Center. Um papai Noel que
confecciona bonecas de ”sabugos” de milho, bonecos de madeira rústica,
carrinhos de latas de óleo comestível, mamulengos de isopor e caroá, além de
outros brinquedos a fim de arrancar sorrisos das crianças do lugar. Um Papai
Noel super-homem, superando adversidades, rompendo barreiras, enfrentando o
estigma das longas estiagens. Um Papai Noel de coração terno, de alma branda.
Um Papai Noel honesto, desprovido de orgulho, semianalfabeto, letrado na arte
de suportar problemas. Um Papai Noel temente a Deus, um homem simples, um
sertanejo.
POETA E PROFESSOR IVO JÚNIOR. ( Salgueiro – PE
SINTO
MUITO
Sinto muito, mas neste Natal não irei ao seu
encontro.
Enquanto mastigar o peru, lembre-se de mim.
Enquanto tomar um champanhe ou uísque
importado, lembre-se de mim.
Enquanto exibir as roupas e os sapatos,
adquiridos numa loja de requinte, lembre-se de mim.
Entretenha-se no parque de diversões, coma
maçã, coma bolo, coma, enfim, o que convier.
Se porventura alguém perguntar por que não
irei ao seu encontro, ainda que duvidando da minha existência, diga que fui
visitar os nossos irmãos da caatinga, flagelados da seca inclemente. Fui ter
com as criancinhas famintas, andrajosas e tristes que choram, em silêncio,
diante da chama fumegante de um candeeiro.
Por favor, amigo, não me telefone. Estarei
também com os meninos de rua, nos morros e favelas.
Por favor, não me mande cartas nem telegramas.
Estarei nos palcos de guerras e conflitos, tentando tornar flexíveis os
corações mais empedernidos.
Por favor, não me mande E-mail. Eu me
encontrarei na solidão dos desertos e oceanos. Poderei ser visto, ainda, nos
asilos, hospitais, presídios...
Escuta, não é difícil de me encontrar.
Facílimo é você não ouvir a minha voz, não entender a mensagem dos meus mansos
olhos, não sentir a minha dor profunda.
Mire-se no céu. Está vendo as estrelas? Pensa
que são os olhos dos anjos?... É lá onde moro.
Amigo, eu não perco de vista nem um grão de
areia de suas pegadas.
Se você quer celebrar o meu nascimento sem
lembrar-se de mim, sinto muito mas não irei ao seu encontro, mesmo que você
ostente na sala de estar uma enorme Árvore de Natal com um robusto Papai Noel
sobre um lindo trenó à luz dos pisca-piscas.
Por favor, procure-me! Você já sabe onde
estou... e o seu Natal será o mais belo do mundo.
Poeta e Professor Ivo Júnior. (Salgueiro-PE)
Obrigada pelos poemas enviados pelo autor. Parabéns! São
lindos!